
A Conta Offshore para Startups: O ‘Day One’ Financeiro de uma Empresa que Nasceu Global
Recebi em meu escritório, há alguns meses, dois jovens fundadores de uma startup de tecnologia. A energia na sala era contagiante. Eles tinham um produto brilhante, uma equipe enxuta e talentosa, e uma visão global. Mas eles tinham um problema que era uma verdadeira âncora prendendo um foguete: a estrutura financeira deles era 100% brasileira. Eles tinham clientes nos EUA e na Europa, programadores trabalhando remotamente da Argentina, e estavam conversando com fundos de Venture Capital do Vale do Silício. A conta deles num banco tradicional brasileiro simplesmente não conseguia acompanhar essa ambição. A solução que desenhamos foi a criação de uma conta offshore para a startup, como parte de uma reestruturação que os prepararia para o mundo.
O erro de muitas startups é pensar em internacionalização apenas do ponto de vista do produto ou do marketing. Elas esquecem que a infraestrutura financeira precisa ser global desde o primeiro dia. Manter uma base operacional financeira no Brasil para um negócio que é, em sua essência, global, é criar um atrito desnecessário que queima tempo, dinheiro e oportunidades.
Receber Aporte, Pagar Talentos Globais
Os dois desafios imediatos que a startup enfrentava eram claros. O primeiro era receber investimento. Um fundo de VC americano tem enorme resistência em investir diretamente numa empresa “Ltda.” brasileira. A complexidade jurídica, a instabilidade cambial, as regras para repatriação de capital… tudo isso é um pesadelo para eles. Eles querem investir numa entidade que conhecem, numa jurisdição estável como Delaware (nos EUA) ou Cayman.
O segundo desafio era pagar a equipe global. A cada mês, o processo para pagar o desenvolvedor na Polônia ou o designer na Índia era uma saga de operações de câmbio, com taxas altas e prazos incertos. A startup estava perdendo talentos para concorrentes que podiam pagar de forma mais simples e em moeda forte.
A Estrutura ‘Flip’ e a Conta Operacional
A solução mais comum e eficiente para esse impasse é o que o mercado chama de “Delaware Flip” (ou um movimento similar em outra jurisdição). Cria-se uma empresa holding nos Estados Unidos (no estado de Delaware, que tem leis corporativas muito favoráveis) e essa holding passa a ser a dona da operação brasileira. É nesta empresa americana que o investimento do fundo de VC entrará.
E a conta offshore para a startup, normalmente aberta em nome dessa holding americana, se torna o coração financeiro da operação. O dinheiro do aporte cai ali, em dólares. É a partir dessa conta que se paga a equipe global, as assinaturas de softwares americanos, os serviços de nuvem. A sensação para os fundadores é a de destravar a empresa. O motor, que antes engasgava com o combustível local, agora ruge com combustível de aviação.
Pensando no ‘Exit’ Desde o Começo
A grande sacada de montar essa estrutura desde cedo é que ela não apenas resolve os problemas operacionais do presente, mas prepara a empresa para o futuro. O objetivo final de muitos fundadores e investidores é a venda da startup (o “exit”) para uma grande empresa de tecnologia. Uma aquisição por uma gigante do Vale do Silício é infinitamente mais simples, rápida e eficiente se a empresa sendo adquirida já for uma entidade americana.
Ter a conta offshore para a startup e a estrutura jurídica internacional desde o início é um sinal de maturidade e visão estratégica. Mostra aos investidores que você não está apenas construindo um produto legal, mas que está construindo uma empresa global, pronta para competir e ter sucesso no palco principal.