Todos os anos, os especialistas da iGaming antecipam mudanças no cenário global do setor, à medida que os mercados recém-regulamentados criam grandes oportunidades para provedores estabelecidos e operadores jovens. A legalização das apostas esportivas no Brasil em 2018 é um desses casos. Uma vez implementados os novos regulamentos e o processo de licenciamento, as operadoras terão que atender a uma demanda colossal – e não apenas pelos padrões latino-americanos.

O Brasil é frequentemente chamado de “gigante adormecido” devido ao seu imenso potencial tecnológico e econômico. É o único país de língua portuguesa das Américas e o mais populoso do mundo; com 213 milhões de pessoas, simplesmente supera Angola e Portugal.

Um fato pouco conhecido: o Brasil costumava ter uma próspera indústria de cassinos no passado. O Rio atraiu muitos nas décadas de 1920 e 1930 com seus luxuosos cassinos construídos em um estilo que lembra a Riviera Francesa. Impopular entre as partes religiosas e conservadoras da sociedade, a indústria acabou sendo banida em 1946 por decreto presidencial. A nova lei entrou em vigor praticamente da noite para o dia, não dando tempo para empresários e funcionários se prepararem.

No entanto, houve algumas exceções a essa proibição. As apostas em corridas de cavalos permaneceram disponíveis sob o monopólio do governo, e o pôquer nunca foi proibido, pois era considerado um jogo de habilidade e não uma forma de jogo.

O bingo permaneceu legal por muito tempo por uma questão técnica, mas foi proibido em 2004 quando a Medida Provisória 168 fechou a brecha legal em questão.

A loteria foi legalizada em 1969 e é fornecida pela Caixa, empresa afiliada ao Ministério da Fazenda.

Obviamente, o jogo online não foi explicitamente mencionado no decreto de 1946; no entanto, é considerado sujeito à proibição geral. Deve-se notar que há certa ambiguidade na relação entre os atores internacionais e o direito brasileiro. A Lei de Contravenções Penais se aplica apenas a atividades que ocorrem dentro das fronteiras do Brasil, por isso é discutível se as operadoras estrangeiras que prestam serviços de jogos de azar online no país sem presença física são afetadas. O aplicativo de apostas casuais Wanna, que se concentra no mercado brasileiro desde 2020, atua justamente nessa área cinzenta.

Ainda assim, o Marco Legal da Internet no Brasil – uma lei aprovada em 2014 – tecnicamente permite que as autoridades bloqueiem e multem operadores que coletam dados ou se comunicam por meio de provedores de serviços de internet no Brasil. 

As estrelas estão se alinhando 

O status quo no Brasil mudou recentemente e as atitudes em relação ao jogo mudaram. As apostas esportivas foram legalizadas em 2018 e os regulamentos serão implementados em breve. O Brasil realmente tem tudo o que precisa para se tornar um novo hotspot de iGaming.

Com quase o dobro da população do segundo colocado México, o Brasil é o país mais populoso da América Latina. A abertura de um mercado deste porte é uma grande sensação, e não apenas para operadores estabelecidos: empresas menores locais e internacionais têm uma oportunidade fantástica de conquistar seu próprio espaço.

As tendências de digitalização também são muito promissoras: a penetração da internet é de 75% (em comparação com 65% em 2018) e há 96 assinaturas de celular por 100 pessoas. O país é muito urbanizado: 87,2% dos brasileiros vivem em áreas metropolitanas, o que significa que o acesso às principais infraestruturas de comunicação é generalizado.

Desde o início da pandemia, os brasileiros passaram a depender cada vez mais de seus telefones celulares para suas compras, lazer e necessidades financeiras. De acordo com um relatório de tendências móveis da App Annie, os 184 milhões de downloads de aplicativos financeiros e de pagamento no ano passado representam um crescimento de 125% em relação ao ano anterior – algo que, em circunstâncias normais, exigiria vários anos.

Além disso, o Brasil lidera o uso diário de dispositivos móveis em todo o mundo com uma média de 5,4 horas por usuário.

Outro fator que contribui para as expectativas do setor é o amor ao esporte.

O futebol tem um lugar especial no coração de muitos brasileiros. A seleção nacional do país é a mais bem sucedida nas competições da FIFA, tendo vencido a Copa do Mundo cinco vezes, um recorde, e muitos grandes de todos os tempos vêm do Brasil.

O exemplo mais famoso é Pelé (nascido Edson Arantes do Nascimento), natural do estado de Minas Gerais que muitos consideram o melhor jogador a enfeitar um campo de futebol.

Além da Copa do Mundo, o Brasil venceu a Copa América nove vezes e geralmente é favorito em competições internacionais. Mesmo na ausência de torneios internacionais, no entanto, os brasileiros desfrutam de muito futebol: os melhores clubes do país disputam o Brasileirão, a principal competição nacional da América Latina, e o sistema de ligas inclui campeonatos federais e estaduais.

Os brasileiros também amam vôlei e corridas de Fórmula 1; nos últimos anos, as lutas de artes marciais mistas atraíram muita atenção devido à influência do jiu-jitsu brasileiro (e, em menor grau, da capoeira) no esporte.

Impostos e regulamentos 

Apesar da legalização das apostas desportivas em 2018, ainda não existe um processo de licenciamento em vigor. A legislação atual sobre apostas de cotas fixas é apenas parte do quadro legislativo, e ainda há muitos detalhes a serem definidos antes que a primeira aposta formalmente legal possa ser feita. 

O custo de uma licença de operador ainda não é conhecido, mas há menções a uma taxa mensal que varia entre R$ 54.419 e R$ 1.944.000 (€ 9.000 – € 320.000) dependendo do volume de apostas.

A lei obriga ainda a partilhar parte do volume de negócios com os serviços públicos e entidades desportivas, ao mesmo tempo que estabelece um limite máximo para os rendimentos líquidos dos operadores: 14% para as apostas a retalho, 8% para as online.

Embora os novos regulamentos ainda não tenham sido implementados, o quadro jurídico está atualmente a ser alterado. Em 15 de julho de 2021, as taxas de imposto sobre as apostas foram reduzidas de 3% para 0,05% para serviços online e de 6% para 0,1% para serviços de varejo. Infelizmente para os jogadores, um imposto de 30% sobre ganhos acima de $ 500 continua em vigor.

 

Em 2020, uma resolução histórica da Suprema Corte permitiu que os estados oferecessem produtos de loteria localmente, criando muitas oportunidades de parceria. Por exemplo, a Betsson obteve licença para operar através do Jockey Club do Rio Grande do Sul. O estado da Paraíba lançou uma versão regulamentada do tradicional jogo de apostas Jogo do Bicho; em Minas Gerais, o governo passou a incluir as apostas esportivas em sua legislação de loterias existente para evitar a espera por uma lei federal.

Entre outros, os estados de São Paulo e Maranhão aprovaram leis para criar loterias locais; tanto o Rio de Janeiro quanto o Distrito Federal de Brasília encomendaram um estudo de viabilidade para justificar o funcionamento de uma empresa privada de loteria.

A legalização dos cassinos também está sendo discutida. Os proponentes veem isso como uma maneira de impulsionar o turismo e aumentar a receita tributária necessária para se recuperar dos efeitos do COVID-19. Um defensor vocal é o senador Angelo Coronel, que afirma que a legalização poderia render ao país US$ 9,3 bilhões e criar 700.000 empregos; alegadamente, até o ministro da Economia Paulo Guedes partilha desta opinião.

Os cassinos de resort integrados foram mencionados no Projeto de Lei do Turismo, e o Projeto de Lei do Resort Integrado de 2020 foi introduzido especificamente para avançar a conversa sobre o assunto.

Com toda a probabilidade, a legalização de outras formas de jogo dependerá se o experimento de apostas esportivas trará efeitos líquidos positivos para o país. Se as apostas resultarem em receitas substanciais para entidades públicas, os céticos podem reconsiderar sua posição.

A próxima grande coisa 

Assim que os regulamentos forem finalizados e implementados, o Brasil provavelmente se tornará um dos mercados de jogos de azar mais quentes do mundo. Claro que, como em muitas outras regiões, a pandemia complicou as coisas; mas mesmo com os atrasos resultantes, espera-se que o mercado esteja em pleno andamento até 2022 (por lei, o Ministério da Fazenda tem quatro anos para desenvolver um marco regulatório).

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